Acredita-se que Estrabão (64-63 a.C. - 21 d.C.) tenha nascido em Amaseia (atual província da Amasya, na Turquia) em Pontus, ao sul do Mar Negro, região que inicialmente era persa. Entretanto, com a conquista por Alexandre de toda a região, essa passou a ser mais uma cidade helênica, iniciando-se um forte intercâmbio comercial com as outras cidades do império macedônico. Contudo, à época do seu nascimento tornou-se parte do Império Romano, fato este que permitiu seus estudos em Roma, nos tempos do Imperador Augusto.
Antes de deixar Roma, concluiu sua obra de 43 volumes intitulada Esboço Histórico, da qual só restam fragmentos. Começou em 31 a.C. suas viagens à Europa, Ásia e África, tendo viajado quase todo o mundo conhecido da época. Cruzou da Armênia à Sardenha, e do Mar Negro à Etiópia. Passou pela Grécia, subiu o Nilo e chegou à ilha de Filé. Permaneceu alguns anos em Alexandria e voltou a Roma em 17 d.C.
Autor da obra Geographia, um tratado de 17 livros ainda preservados em nossos dias, com exceção do volume 17 que restou como um sumário. Contém a história e descrições de povos e locais em que viveu na época, misturados às descrições geográficas.
A Geografia está dividida da seguinte forma:
- Os livros I e II constituem uma longa introdução à obra;
- Os livros III ao X descrevem a Europa, particularmente a Grécia (livros VIII-X);
- O Livro III é dedicado à Ibéria;
- Os livros XI ao XVII descrevem a Ásia Menor;
- O livro XVII descreve a África (Egito e Líbia).
Não se sabe ao certo quando escreveu a Geographia. Alguns historiógrafos localizaram os primeiros esboços da obra durante o ano 7 d.C, outros no ano 18 d.C, mas a versão final data do reinado do imperador Tibério, uma vez que a morte de Jubá, rei da Maurousia (23 d.C.) nela é mencionada.
Existem muitas hipóteses sobre a exata data do seu nascimento, porém o ano 63 a.C. é a mais aceita. Datas diferentes são propostas para sua morte, a maioria localizadas pouco depois de 23 d.C.
Estrabão sumarizou ou compilou todo o conhecimento sobre a geografia até o seu tempo. Em relação à cartografia, apesar de em sua obra não haver nenhum mapa, foi ele que escreveu como o mundo conhecido deveria ser desenhado.
Os gregos desenvolveram dois estilos para a geografia escrita. Um, seria o descritivo, na tradição iniciada com o historiador Heródoto. O outro, de caráter mais analítico, contendo vários aspectos da matemática e da astronomia como a medida da circunferência da Terra e definições de lugares de acordo com sua latitude e longitude.
Tudo indica que Estrabão teria feito uma clara distinção na geografia entre o que chama de astronomia e a geografia descritiva. Em várias ocasiões explicou o que pertencia à geografia e o que deveria estar fora.
Em suas próprias palavras pode-se perceber isso:
O geógrafo não precisa se atarefar com o que está fora do seu mundo habitável e, mesmo nos casos do mundo habitável, o homem de trabalho não precisa ser ensinado da natureza e o número de diferentes aspectos dos corpos celestes porque isso é uma leitura árida para ele.
Desde Hiparco, a geografia começou a incorporar mais elementos matemáticos e astronômicos. Porém, essa abordagem não funcionou como precedente literário para Estrabão, uma vez que estava engajado em uma geografia descritiva. Dessa forma, ele não procurou por novas provas empíricas e métodos de pesquisas, mas aceitou as informações de Hiparco e outros estudiosos, orientando os leitores sobre os escritos de seus predecessores.
Segundo Daniela Dueck:
Se alguém deseja aprender sobre essas regiões e também sobre todos os outros aspectos astronômicos que já foram tratados por Hiparco, mas omitidos por mim, como sendo já bem claramente tratados para serem discutidos no presente trabalho, deixe que se obtenha de Hiparco.
Diferentemente de outros estudiosos que antes dele começaram a preocupar-se com a questão da projeção dos mapas para resolver a questão da deformação do mundo redondo a ser colocado em um mapa plano, Estrabão declarou que “prefere construir seu mapa em um globo suficientemente grande para mostrar todos os detalhes necessários”.
Na figura 7, construída com os pressupostos registrados por Estrabão, está bem delineado o chamado “Mundo Conhecido”: o Mediterrâneo no centro, a Europa, o trecho conhecido da África (chamado de Líbia, naquela época), o Mar Negro (onde havia uma série de cidades gregas há muitos séculos), a Pérsia e a Índia, com o Rio Indus desembocando no que os gregos chamavam de “Rio Oceanus”. Conclui-se que, ainda em sua época, ao redor do mundo conhecido havia somente águas.