História da Cartografia
Abilio de Castro Gurgel

A obra Geographia é considerada entre os estudiosos o principal legado de Ptolomeu para o desenvolvimento da cartografia. Contém as instruções codificadas e a forma de como desenhar uma variedade de mapas, inclusive um mapa do mundo.

Dilke afirma: “Não há dúvida que Geographia foi, deliberadamente, planejada como um manual para cartógrafos”. A palavra “manual” seria, na verdade, um anacronismo. Contudo, o que Dilke quis dizer é que se trata de uma obra em que Ptolomeu ensina como desenhar um mapa baseado em coordenadas de latitudes e longitudes, em vez de simplesmente mostrar um mapa pronto.

Nas próprias palavras de Ptolomeu observa-se esse ponto bem claramente, quando explica o conceito de geografia como “uma representação gráfica de toda parte conhecida do mundo, bem como as coisas que acontecem nele”.

O Livro I expõe conceitos teóricos, discussões sobre a construção de um globo, a descrição de projeções para mapas e crítica de sua principal fonte, Marino de Tiro. No início do Livro II, Ptolomeu assinala quais mapas irá fazer, apresenta os métodos que devem ser utilizados e escreve a respeito da coleta de dados, das tabelas de coordenadas geográficas e seu uso na confecção dos mapas.

Os Livros II a VI e a parte inicial do Livro VII compreendem um catálogo completo de mais ou menos 8.000 localidades (cidades, montanhas, penínsulas, rios, e outros) com a latitude e a longitude em graus, assim distribuídas: Europa (II-III), África (IV) e Ásia (V-VI). Para algumas localidades, detalhes topográficos descritivos acompanham as coordenadas. A segunda parte do Livro VII contém a descrição de um mapa do mundo, com os oceanos e ilhas mais importantes. O Oceano Índico, para Ptolomeu, era o maior de todos, e o Oceano Atlântico nem era mencionado.

No Livro VIII, novas discussões são realizadas a respeito dos princípios da cartografia e dos métodos matemáticos, geográficos e astronômicos envolvidos. Há também curtas legendas para os mapas: dez para a Europa, quatro para a África e doze para a Ásia. As regiões eram mostradas em cada um, com as cidades e o nome dos povos mais importantes. Segue uma descrição da projeção matemática de todo o hemisfério conhecido e seu aspecto esférico dentro de uma dimensão plana e, finalmente, dos erros que devem ser evitados na confecção de mapas com regiões muito populosas.

É importante lembrar que Ptolomeu planejou 26 mapas regionais, sendo 10 da Europa, 4 da África e 12 da Ásia, fora um mapa do mundo conhecido.