Uma das mais antigas referências sobre cartografia é o suposto mapa que haveria no escudo de Aquiles na obra Ilíada de Homero. Tanto Estrabão como os estóicos chamaram Homero de “precursor” da geografia na Antiguidade.
Um marco relevante na forma de pensar e analisar o mundo ocidental começou na cidade de Mileto, grande porto e centro comercial a partir do século VII a.C.. Pensadores como Tales (624-546a.C.), Anaximandro (610-546 a.C.), Anaximenes (585-525 a.C.) e Hecateu (546-480 a.C.), além de questionarem o sentido da vida, deixaram dados sobre mapas, cosmos e clima. Foi também em Mileto onde se acredita que os conhecimentos astronômicos da Mesopotâmia (babilônios, assírios, sumérios), assim como a geometria do Egito, chegaram por meio das trocas comerciais e pelas viagens dos interessados em compreender o mundo conhecido.
Há possíveis evidências de que Tales tenha visitado o Egito para obter consultas com sacerdotes.
Posteriormente, conforme a lenda, retirou-se para estudar geometria egípcia e astronomia babilônica.
Agathemerus, autor no terceiro século de nossa época de um tratado geográfico e fonte de muitos trabalhos perdidos, afirmou que Anaximandro, discípulo de Tales, aventurou-se a desenhar um mapa do mundo conhecido e que Estrabão alegou, em sua obra, que o mesmo Anaximandro “foi o autor que publicou um mapa geográfico”, talvez não exatamente o que atualmente chamamos de mapa, mas um “Pinax” ou um painel pintado.
Seria o mesmo mapa que, provavelmente, inspirou o historiador grego Hecateu de Mileto, autor do “Circuito da Terra”, a desenhar uma versão mais precisa dessa carta geográfica. O mapa tem um valor histórico diferenciado, pois o historiador grego Herótodo não mencionava Anaximandro pelo nome, mas se referia várias vezes a esse “tablete de bronze” onde estava gravado um circuito da Terra com todos os mares e rios.
A figura 4 mostra uma reconstrução do que seria o mundo segundo Hecateus. É importante observar que nesses primeiros desenhos a Grécia ocupava a posição central e, talvez, Delfos o seu centro.
Outro ponto a ser observado é a ideia do mundo envolvido por águas que Dilke entende como muito antiga e, provavelmente, herdada de concepções de mapas babilônicos reforçadas pela mitologia grega mencionada por Homero.
Tal concepção, à primeira vista, é mais significativa do que parece por vários motivos:
1) Um mapa possibilitaria melhorar a navegação e o comércio entre Mileto e suas outras colônias em todo o Mar Mediterrâneo e o Mar Negro.
2) Haveria um componente político que poderia ser usado como meio de convencer as cidades-estados Jônicas a ingressarem em uma federação e, dessa maneira, lutarem juntas para evitar a ameaça dos Persas.
3) Finalmente, a representação do mundo conhecido seria uma questão de conhecimento filosófico das ideias dos pré-socráticos que buscavam o “arché” (princípio das coisas) e a “physis” (natureza ou o que é primário, fundamental e persistent