Ao longo de milênios, uma das preocupações centrais de diversas sociedades foi tentar entender os limites do Universo. Para os povos gregos, compreender a natureza era uma de suas preocupações centrais e, dentro desse entendimento, o mundo geográfico fazia parte. A sua “geografia” estava limitada à que os gregos denominavam de mundo conhecido ou o “Oikoumenë” e, dessa forma, era esse mundo físico o elemento fundamental para se pensar no sentido da cartografia. Para demarcar os limites do seu espaço terrestre e celeste iniciaram uma busca, tanto pelas estrelas, planetas, lua e sol, como por terra, mar, rios e montanhas.
Assim, ideias e conceitos filosóficos foram primordiais para um novo entendimento, um olhar ao redor com o objetivo de perceber esse mundo conhecido ou o “Oikoumenë” e poder escrever e desenhar a forma que hoje é chamada de mapas ou cartas cartográficas.
Nessa dimensão, diversos aspectos da geografia, cada qual dentro de sua especificidade, ganharam importância para a confecção de mapas, a saber: a) como estabelecer reais posições das cidades, regiões, montanhas, rios, estradas, etc.; b) o clima e a descrição do espaço físico.
Com o desenvolvimento da navegação e do comércio na Antiguidade e com as informações produzidas por marinheiros e viajantes, esses pensadores puderam ter os dados que precisavam para confeccionar mapas. O estudo da astrologia e da astronomia, que começou com os Babilônios, também ajudou a desenhá-los, à medida que possibilitou estabelecer as coordenadas de latitude e longitude.
Aspectos políticos como a união de cidades-estados frente ao avanço dos povos “bárbaros” estrangeiros e as novas formas de atuação política como a democracia, tirania e outras, colaboraram nas transformações das mentalidades (ideias e representações) desses povos da Antiguidade.
Uma das finalidades principais deste trabalho de pesquisa será a de avaliar os cartógrafos da época do Renascimento, em especial, Gerardus Mercator (1512- 1569), utilizando os estudos geográficos da Antiguidade (Grécia Antiga), assim como
a reutilização dos princípios e obras de Claudio Ptolomeu a partir do século XIV, os da imprensa e os novos descobrimentos marítimos. Desse conjunto foi confeccionado um mapa, em 1569, dentro de uma projeção cartográfica que permaneceu como padrão para os mapas por quase 400 anos.
Neste campo de investigação, serão apresentados os procedimentos e ideias para refletir-se sobre o processo histórico vivenciado por diversos pensadores em suas respectivas sociedades, marcados por especificidades, avanços e recuos, bem como crenças, conceitos filosóficos e imagens sobre a Terra, o Universo e o próprio homem. Para tanto, constarão as contribuições e principais obras de astrônomos, matemáticos e geógrafos, assim como análises e críticas aos seus predecessores. Dentre eles serão destacados: Eratóstenes (276-196 a.C.), Hiparco (190-125 a.C.), Estrabão (64/63 a.C. - 21 d.C.) e, principalmente, Claudio Ptolomeu (100-178 d.C).
Ao desenvolver esta pesquisa sobre a trajetória cartográfica de Mercator, no contexto da História da Ciência, pretende-se demonstrar, em especial, como a Geografia permite pensar e repensar os limites do mundo conhecido. A ampliação do espaço em que vivemos depende de pesquisas, procedimentos, técnicas e estudos, muitos dos quais possibilitam entender o espaço-mundo habitado por diferentes homens, vivendo em diferentes culturas. Finalmente, é fundamental enfatizar a importância de entender-se o homem e sua obra em relação ao seu contexto social e à sua época.